Desencaixotando Rita

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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Jacques & Alix Cleo



qualquer coisa de preto
me acorda à noite
como 
a musculatura 
pesada
que cresce
na umidade
oleosa do poema
expandindo 
               interstícios;
paredes cobertas de fungos
colam-se 
                à minha pele franzida.



tenho miríades de caixas
                               no chão 
objetos lacrados
embalados 
na sua ausência
[achados e perdidos
que não se toleram 
                   entre si] 

há um desejo      de      pura taxidermia
                  decantado no fundo 
                  do copo
- rebarbas  
de uma       vivissecção emocional:
suturas                               disfóricas
               inextrincáveis.

qualquer coisa de preto
emite  pruridos no golfo
sulfúrico da palavra secreta
engolida com os comprimidos
                              para dormir. 

mas é preciso que 
o céu esteja
impermeável a isso.
não há piedade
na anomia
na certeza
nos corpos
que          emitem          luz
é preciso que o quarto 
permaneça vedado
a tudo que dança, que espirala
em ascensão desabalada e 
se reproduz.




terça-feira, 9 de setembro de 2014

"ex-vênus"

para leonardo

este é todo teu, garotinho,
o habitante litúrgico, lisérgico 
do meu sonho-arquipélago.
juntos, povoamos o sargaço, 
pilotamos caravelas anacrônicas
             como o amor 
[e como o que eu escrevo]
mas o que te escrevo, meu morcego,
escrevo de outro lugar, 
uma constelação qualquer, serena,
colonizada por hordas decaídas
que cantam e guincham, 
como nós, os convivas heterônimos
                                 da nossa língua.
sou tua ex-vênus corrompida, antimusa
alegórica e marinha; espero que reconheças
a tarefa sísmica e a mulher que não sabe, que 
não sabe, não sabe o que fazer
com estas ogivas que pendem 
como olivas 
e matam lentamente.